segunda-feira, 2 de abril de 2012

Chefs da terra?

“Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens”- (Mateus 5: 13).
Ontem, numa palestra, ouvi o palestrante dizer que somos o sal da terra e que temos que ‘distribuir’ sal por onde passarmos, como testemunho de que somos novas criaturas, com ênfase em falar de Jesus em todos os lugares e se a oportunidade não se apresenta, cria-se. Aparentemente é isso mesmo, é o que se prega e ninguém ousa acrescentar algo à interpretação dessa palavra.
No momento me ocorreu que há uma inversão de sentido nessa palavra e no que dizem sobre ela. Jesus disse que somos o sal e não que somos chefs de cozinha. O sal é um elemento fundamental na alimentação animal e não pode faltar. Sua dosagem, porém, é insignificante! Cada um tempera a seu gosto. Como eu posso salgar a terra? Entendendo as palavras de Jesus, creio que ele estivesse se referindo ao fato de sermos o sal em importância, pela suavidade de sua presença na alimentação. Ninguém percebe, mas está lá. Sem ele a comida fica insossa e sem paladar.
Tudo o que somos, bem como o que aprendemos e vivemos, tem algo de nossos semelhantes, de forma que fica difícil dizer a origem do que aprendemos ou incorporamos na nossa experiência de vida. A nossa vida é somatória de aprendizagem e conhecimentos, nossos e dos outros. É um conjunto de experiências se sucedendo a cada instante fazendo parte da nossa ‘alimentação de vida’ todos os dias. E pode ter certeza o sal está lá!
Parece que Jesus estava indo além do ‘sabor salgado’ para definir o que deveríamos entender. Estava se referindo à importância vital do sal. Inexpressivo que seja, mas importante e necessário. Ninguém o vê, não enfeita o prato, mas todos percebem e rejeitam sua falta.
Outro ponto que me ocorreu: somos o sal, não saleiros ou cozinheiros! Somos o sal e quem precisa ou quer usa-o! A dosagem depende dos outros não de nós. Apenas temos que ser o sal, bom e puro, para não contaminar, mas para realçar o sabor na medida certa do consumidor.
Se fôssemos cozinheiros poderíamos distribuir sal a vontade, e isso poderia acarretar no excesso, pelo fanatismo, ou na falta, pela descrença e o pouco apego em praticar as misericórdias de Deus e sua justiça entre os homens. Mas, Jesus disse que somos o sal, e onde passarmos estaremos à disposição dos demais como tempero de suas vidas. Uns dependem dos outros para dar sentido a sua própria vida. Sozinhos não haveria sentido na vida humana. Completamo-nos, uns com os outros.
Talvez esteja aí o maior problema da pregação do Evangelho, onde cada um quer fazer discípulos à força, salgar os outros, quando o que deveria contar é o que cada um aprende conosco. O que cada um dosa em sua vida que pode ser atribuído à nossa participação, como sal puro e bom? Isso sem testemunho não funciona! Só discursos não acrescentam muito. É preciso ir além e ser o sal.
Jesus não disse que somos cozinheiros, pois assim não seríamos o sal. O sal é para ser usado para bom sabor, bom paladar!

Que Deus o ajude nessa tarefa de ser um bom sal, puro e vital à terra.





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